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Cinema Crítica

O Brutalista: a promessa de uma narrativa grandiosa que logo se esgota

O filme acompanha um arquiteto visionário que foge da Europa pós-Segunda Guerra e chega aos Estados Unidos para reconstruir sua vida, carreira e casamento

05/03/2025 às 09h47 Atualizada em 05/03/2025 às 10h00
Por: Romison Florentino
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 (A24/Universal Pictures Brasil/Divulgação)
 (A24/Universal Pictures Brasil/Divulgação)

Ambientado no pós-guerra, O Brutalista, dirigido por Brady Corbet, é uma jornada sobre recomeço, sobre o que restou da própria existência em decorrência dos traumas, em meio aos jogos de poder, contradições que assolam o “ideal americano” e estruturas segregadoras que colocam de joelhos hierarquias de cunho social, cultural e étnico. Tudo isso envelopado num processo pessoal em busca de sucesso, reconhecimento e realizações de sonhos.

A arquitetura aqui tem uma função narrativa e visual muito central, já que o concreto áspero, os tons frios, a falta de alma de um monumento grandiloquente, representa a forma com que Corbet tenta traduzir as identidades retalhadas,o vazio existencial, a angústia e a necessidade de validação social a todo custo, empregada especialmente ao protagonista, László, interpretado com uma profundidade monossilábica por Adrien Brody.

Ao mesmo tempo, o longa se desenvolve como uma grande promessa que nunca foi cumprida. Algo fica pelo caminho, muito em decorrência das bases narrativas que logo se esgotam, e por mais que esteja ali empregado uma fotografia cheia de simbolismos, que poderia trazer bagagens mais subjetivas ao espectador - como a estátua da liberdade invertida, por exemplo -, o filme consegue se tornar enfadonho rapidamente, inflando o tempo de tela e se tornando arrastado, abraçando o ‘extremo e chocante’ como justificativa da execução morna do monumental prometido. 

 (A24/Universal Pictures Brasil/Divulgação)

 

Um ponto que vale ser ressaltado é a ampliação de escala pela utilização do VistaVision, técnica de filmagem analógica criada em 1954 por engenheiros da Paramount Pictures que trouxe muita expressão à geometria da arquitetura do longa, além de ter evitado distorções, traduzindo o brutalismo e executando enquadramentos contemplativos e memoráveis pós exibição. 

Ao mesmo tempo, o filme parece ter vergonha das próprias decisões, inicia vários momentos promissores mas decide soltar a mão logo depois, não traz desfecho para os aspectos sociais mais interessantes, até mesmo os momentos mais íntimos carecem de construção, não consegue aprofundar a partir de um prisma maior a ambivalência dos personagens. O resultado se resume em performances no mínimo "metálicas’’.

Desse modo, o longa parece querer se vangloriar o tempo todo da sua grandiosidade. A jornada que era pra ser sobre um processo de construção física (o monumento) e reconstrução emocional (o protagonista) não se coexistem. No lugar, prefere se entregar a um terceiro ato extremamente expositivo, que tira o peso das decisões narrativas que o roteiro prometera destrinchar, mas não o fez. 

 (A24/Universal Pictures Brasil/Divulgação)

 

Oscar 2025

A 97ª edição do Oscar aconteceu neste domingo (2). Direto do Dolby Theatre, em Los Angeles, nos Estados Unidos, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou os vencedores da premiação, que é considerada a mais importante do cinema mundial.

O Brutalista conseguiu levar para casa três estatuetas: Melhor ator com Adrien Brody; Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Fotografia.

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