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Cinema Crítica

Conclave: o jogo político por trás da fumaça branca

Indicado a oito categorias do Oscar, o thriller eclesiástico trata de acontecimentos após a morte do papa, onde os líderes mais poderosos da igreja se reúnem para escolher um sucessor, durante uma eleição isolada do mundo

10/02/2025 às 18h32 Atualizada em 14/02/2025 às 19h02
Por: Romison Florentino
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Foto: divulgação
Foto: divulgação

Se há um ritual que permanece no consciente coletivo das pessoas como algo misterioso e altamente secreto é a escolha de um novo papa. Mas em Conclave, dirigido por Edward Berger (“Nada de Novo no Front”), após a morte do pontífice, um cardeal é encarregado de levar à frente as eleições para escolha de um sucessor, recebendo os líderes mais poderosos da igreja para uma votação isolada do mundo, enquanto percorrem os corredores do vaticano e fazem muita política até um deles receber 2/3 dos votos.

O longa é baseado no livro homônimo de Robert Harris, que se descreve como uma obra sobre o “poder de Deus e a ambição dos homens”. É exatamente isso que a obra propõe discutir: a moral e a ética. Debatendo sobre a fé, sobre a ideia de unicidade que a igreja sempre se apoiou no campo simbólico, mas que na prática acaba transparecendo diferente, contraditório.

A escolha deveria vir do além, mas na verdade tudo que acontece são conspirações uns contra os outros, derramando sobre a mesa, suas fraquezas, erros e medos em detrimento do espaço em aberto, de ser o motivo da fumaça branca da Capela Sistina e líder de uma doutrina que abarca 1 bilhão e 390 milhões de pessoas ao redor do globo.

Toda essa complexidade é captada através de um texto ora conciso mas repleto de olhares profundos e despidos de certezas por elenco experiente e renomado. Com destaque para as atuações de Stanley Tucci (Kingsman), Ralph Fiennes (“O Grande Hotel Budapeste”), Isabella Rossellini (“O sol da meia-noite”) e John Lithgow (“Interstellar").

A intimidade sentida dentro um mundo isolado 

Conclave é um daqueles filmes que constrói a sua narrativa de uma forma lenta e sem pressa. Transborda a grande tela o cuidado meticuloso em relação a sonoplastia, os planos detalhes aqui, possuem a capacidade de transportar o espectador para o mais íntimo dos mundos dos personagens, o farfalhar da respiração, o manejo dos papéis, o silêncio sepulcral, tudo isso contribui na sensação de confinamento, de estar enclausurado.

A fotografia, assinada por Stéphane Fontaine, é muito bem definida, o vermelho-carmesim dos cardeais, as tonalidades de roxo dos bispos, as nuances caucasianas das vestimentas do papa e a neutralidade cinza das roupas das irmãs. Tudo isso envelopado numa arquitetura renascentista do Vaticano.

A grandiosidade da fotografia traduz a relação nutrida entre os fiéis e a igreja: a sensação de estar fisicamente no local, mas não necessariamente pertencer a ele. Se os planos detalhes revelam o íntimo, os planos gerais evidenciam um certo relativismo no que diz respeito ao pertencimento.

foto: divulgação

 

Peter Straughan usa os três atos do filme para construir um roteiro poético e reflexivo. Tenta traduzir de forma precisa a sociedade que estamos inseridos, além de transmitir a ideia de que a unicidade da igreja não existe e que na verdade o que há é uma fragmentação em motins, sejam eles ideológicos ou geográficos. 

“Nossa fé é algo vivo, exatamente por caminhar de mãos dadas com a dúvida. Se houvesse apenas certeza e não dúvida, não haveria mistério e, portanto, nenhuma necessidade de fé.”

- Conclave

Conclave é um filme que não subestima a audiência. Edward Berger traz minúcias dos rituais, não explica as hierarquias ou aspectos da liturgia, mas ao mesmo tempo nos leva a 

entender os ínfimos detalhes, como o que é feito com o anel do papa após sua morte.  

Indicações ao oscar

Conclave recebeu oito indicações ao Oscar 2025: Melhor Filme, Melhor Ator (Ralph Fiennes), Melhor Atriz Coadjuvante (Isabella Rossellini), Roteiro Adaptdo, Edição, Design de Produção, Melhor Figurino e Melhor Música Original.

 

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